“As religiões têm futuro?”: conferência no St. Paul’s School

O diálogo inter-religioso é necessário na construção da paz.

Na última conferência, sob o tema “As religiões têm futuro?”, o St. Paul’s School recebeu os prestigiados investigadores João Gouveia Monteiro e Paula Barata Dias.

A conferência contou com uma assistência de cerca de quatro dezenas de pessoas, entre colaboradores, famílias e parceiros.

Na sua exposição, o Professor João Gouveia Monteiro refletiu sobre a presença e evolução das várias regiões, tendo se constatado que “as religiões são um processo dinâmico”, não sendo os países de prevalência os mesmos que lhes serviram de palco à origem.

“Todos temos espiritualidade e a religião é uma forma de organizar essa espiritualidade ligada a uma instituição”, referiu o Professor João Gouveia Monteiro.

Relativamente ao culto de Deus, referiu que “independentemente de um ou vários deuses, ou sem deus algum, a religião é uma forma de amor, o amor ao outro, a maior transcendência humana e fator de libertação”.

Deve, por isso, imperar o diálogo inter-religioso, não no sentido de converter o outro, mas porque “as religiões têm a aprender umas com a outras e há lugar para todas”.

Seguiu-se a segunda oradora, Paula Barata Dias, Professora e investigadora da Universidade de Coimbra.

A Professora Paula Barata Dias abordou “as representações do sagrado” e a forma como a história faz uma “acomodação do culto das figuras representativas”. Exemplo disso é a “humanização do culto” que, a determinada altura, o “cristianismo patriarcal” fez com a integração da figura feminina, como forma de atrair as mulheres para o culto.

A figura de Maria e a sua afirmação foi “um fator de diferenciação” do Cristianismo, relativamente ao Judaísmo.

No culto paleolítico, “há um modelo feminino, típico das sociedades agro-pastoris”, que antecedeu a transição para um culto de maior “prevalência da figura masculina, como deus, numa valorização do Homem como força física, guerreiro”, embora “a figura feminina nunca tenha deixado de existir, e com atribuições próprias”, mencionou a Professora Paula Barata Dias.

O encerramento da Conferência contou com Jaime Ramos, Médico e Presidente do Conselho de Administração da Fundação ADFP, que aproveitou para agradecer a presença dos oradores, reforçando a importância do diálogo inter-religioso e a tolerância nas sociedades atuais. Valores que levaram a Fundação ADFP a construir o Templo Ecuménico Universalista como um espaço “para todos”, e onde “todos têm lugar”, independentemente da religião ou ausência dela.

João Gouveia Monteiro é Professor Catedrático e doutorado pela Universidade de Coimbra, onde ensina História Militar e História das Religiões. Durante a sua intervenção, destacou a importância da inclusão da história das religiões no ensino, pelo facto “de que toda a nossa cultura está alicerçada em factos religiosos”.  

A iniciativa foi organizada pelo Departamento de Ciências Sociais e Humanas do St. Paul’s School, em colaboração com o Departamento de Línguas Românicas, no contexto do mês em que comemoramos o Dia Mundial da Religião, e num período em que o mundo vivencia conflitos bélicos sob o fundamentalismo e pretexto religioso.  

Em fevereiro, o ciclo de conferências continua, com mais um reputado convidado. No dia 9, e no âmbito da Semana das Ciências, o St. Paul’s School recebe Miguel Gonçalves, reputado astrónomo e comunicador da ciência do canal de televisão público RTP.